1 Junho 2025

Wes Anderson questiona o bem e o mal em “The Phoenician Scheme”

Com uma estética visual inconfundível e tramas que exploram solidão, família e propósito, Wes Anderson retorna às telas com The Phoenician Scheme, um filme que, desta vez, ousa olhar para o céu — literalmente. Além de cenários detalhadamente compostos e personagens excêntricos, o longa mergulha em reflexões sobre moralidade, redenção e a busca pela alma.

A narrativa gira em torno de Anatole Korda, também conhecido como Zsa-zsa, um traficante de armas e magnata de negócios duvidosos, interpretado com perfeição por Benicio Del Toro. Korda aparece em cenas em preto e branco diante dos portões do céu, aguardando julgamento de uma curiosa “troupe bíblica” formada por atores como Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg, Hope Davis e Bill Murray — que interpreta, com um toque cômico e peculiar, ninguém menos que Deus.

Essas pequenas cenas celestiais são breves, quase como vinhetas, e reforçam o estilo narrativo que consagrou Anderson: fragmentado, meticuloso e visualmente impecável. Aos 56 anos, o diretor mantém um rosto jovial e uma carreira consolidada, cercada de prêmios e exposições em museus prestigiados como o Kunsthistorisches, em Viena, e a Cinémathèque Française, em Paris.

O elenco de The Phoenician Scheme é uma mistura de colaboradores antigos e novos nomes. Bill Murray, figurinha carimbada nos filmes do diretor, retorna mais uma vez. Já Del Toro aparece pela segunda vez, após sua participação em The French Dispatch. Desta vez, ele dá vida a um Korda frio e calculista, que após sobreviver à sexta tentativa de assassinato, decide escolher um sucessor para seu império.

Apesar de ter nove filhos que vivem em um alojamento do outro lado da rua — um reflexo de sua paternidade negligente — sua escolha recai sobre a filha afastada Liesl (vivida por Mia Threapleton), prestes a se tornar freira. Com moral firme e olhar cético, Liesl enxerga na proposta do pai uma oportunidade de causar algum impacto positivo, mesmo desconfiando de suas intenções.

A proposta do filme, no entanto, não está centrada nos detalhes do tal “esquema fenício”, mas na jornada de transformação de Korda. O plano, embora citado, é propositalmente vago e secundário. O foco é a alma do protagonista, sua tentativa de redenção e o contraste entre sua trajetória e a pureza moral da filha.

Em tom filosófico, o longa se aproxima de obras de artistas que, em fases mais maduras da carreira, voltam-se para questões existenciais. Embora Anderson nunca tenha abordado religião de forma tão direta, aqui ele explora o tema com originalidade, sem abandonar seu estilo inconfundível.

Durante a trama, Korda e Liesl viajam pelo mundo tentando financiar o plano. No caminho, encontram uma série de figuras que revelam fragmentos do passado de Korda. Entre os personagens estão um príncipe vivido por Riz Ahmed, irmãos interpretados por Tom Hanks e Bryan Cranston, o dono de boate Marseille Bob (Mathieu Amalric), um sujeito chamado Marty (Jeffrey Wright), militantes liderados por Sergio (Richard Ayoade), a prima utópica Hilda (Scarlett Johansson) e o rancoroso tio Nubar (Benedict Cumberbatch).

Com tantos personagens e tramas paralelas, o maior problema de The Phoenician Scheme é justamente o excesso. O filme avança rapidamente de cena em cena, de personagem em personagem, sem tempo suficiente para aprofundar suas reflexões. Tudo é belamente construído, mas muitas vezes raso, quase como se tivesse medo de se encarar com profundidade.

Ainda assim, o longa traz elementos suficientes para agradar aos fãs de Anderson: uma direção de arte primorosa, atuações marcantes e uma narrativa que, mesmo dispersa, toca em temas universais. The Phoenician Scheme pode não ser a obra mais coesa do diretor, mas é certamente uma das mais ambiciosas em termos de questionamento espiritual.